
Trump e seu indicado, Neil Gorsuch
Todo mundo sabe que o indicado pelo Trump para ocupar a vaga na Corte Suprema da gringolândia seria necessariamente um conservador.
Mas, que tipo de conservador?
Matéria de hoje no NY Times dá pistas (e a matéria tem até um tom simpático ao cara)…
Neil M. Gorsuch já era juiz federal, e tem uma carreira… brilhante e técnica, claro. Esse é o mote usado aqui e alhures para disfarçar o caráter inevitavelmente político das escolhas.
A mamãe de Gorsuch foi diretora da Agência de Proteção Ambiental dos EUA durante parte do governo Reagan. E acabou defenestrada por que recusou entregar ao Congresso relatórios sobre o armazenamento de lixo tóxico. Foi indiciada por desrespeito e teve que renunciar. Gorsurch, na época ainda adolescente, recriminou mamãe por ter renunciado. “Você não fez nada de errado. Só fez o que o presidente mandou. Por que está desistindo? Você me criou para nunca desistir. Por que está desistindo?”
Fez o que o presidente mandou… E quem pode, manda, como sabemos. Aliás, esse é um dos padrões de certa tradição jurídica alemã, na qual a prevalência da lei escrita (seja de que origem for), cria “legalidades” que vão além da ética, dos direitos humanos e os escambaus. Foi o raciocínio usado pelos juristas nazistas.
Gorsurch estudou em duas escolas de direito consideradas liberais nos EUA – Columbia e Harvard. Lá, não apenas liderou os estudantes conservadores, como criou publicações para defender suas teses.
O anuário de Columbia o descreve, “fazendo piada” como fundador do clube “Fascismo para Sempre”. Quem acha que isso é brincadeira é que não pode ser levado a sério. Mas, descontemos, era coisa de estudantes. No entanto, diz que ele “fustigava alegremente” as crescentes tendências “esquerdistas” dos professores, conhecidos liberais. No jargão dos EUA, os “liberais” são companheiros de viagem dos comunistas. Não comem criancinhas, mas ajudam a preparar o jantar…
As piadinhas no anuário não terminam aí. A foto do rapaz vai com citações preferidas dele. Olhem só:
“O ilegal fazemos imediatamente, o inconstitucional demora um pouco mais” – Henry Kissinger.
E o cara está para ser nomeado “guardião da constituição”.
A revista que ele ajudou a fundar – “The Federalist Paper” – recebia anúncios da cerveja Coors, do Colorado, de propriedade de um, digamos, antecessor dos irmãos Koch no financiamento da direita.
Os estudantes de Columbia resolveram fazer um boicote à Coors e um dos alvos foi a revista de Gorsuch, por conta de suas ligações com o magnata reacionário.
A matéria do NY Times ressalta que ele sempre defendeu suas posições com cortesia e mantem relações pessoais amistosas com juristas e personagens liberais.
Digamos, um Gilmar Mendes polido e cortês.
Técnico – como o que o impostor daqui diz que vai indicar para o STF.