
Quem diria: carioca, mas nascido em S. Paulo. Um Bananão pro bairrismo…
Nos últimos dias andei lembrando muito do Ivan Lessa. Principalmente do modo como ele se referia ao Brasil: Bananão.
O Bananão é uma república de bananas superlativa. Tudo é mais exagerado no Bananão. Os defeitos e as virtudes – quase nunca explicitadas, mas implicitamente reconhecidas, talvez em uma imagem nostálgica do Brasil dos anos 50/60, mais especificamente do Rio de Janeiro nessa época.
O Bananão é complicado. Até porque, quando descascado e com a casca ao chão, alguém sempre corre o risco de pisar na dita e desabar. Pois, como dizia seu conterrâneo e contemporâneo, Tom Jobim, o “Brasil (Bananão) não é para principiantes” (A frase é do Tom, plagiada por um metido a sabe-tudo no título de um livro).
Pois bem, a quadra em que vivemos é uma reiteração das frases do Ivan, que as produzia por puro e simples desfastio dadaísta. Quando se constroem frases como as dele, não é preciso ter nenhuma intenção política: a frase é a política. Como agora, contraditória, irônica – mais bem, sarcástica – e às vezes até compungida, como quem lembra da piada na qual a Divindade, cobrada pelos anjos por criar uma terra sem furacões, vulcões, terremotos, maremotos e outros quetais, responde: “Vocês vão ver o povinho que vou jogar lá!”
Só para entrar na Horta da Luzia – essa expressão anárquica de memória – “erudição de abobrinhas”, como disse uma vez o Sérgio Augusto, vão lá algumas frases do Ivan:

Sig, criação do Jaguar e batizado pelo Lessa.
Se você juntar miséria e catolicismo, só pode dar besteira. – Bingo
O passado, ao menos, fica lá no canto dele, envolto em sombras, rindo seu riso velhaco, debochando de nós, dos nossos sonhos e das nossas aspirações, da nossa quebração geral de caras.
Uma profecia é uma borboleta voando adoidada pelo ar. Um fato é uma bala zunindo em nossa direção.
Toda notícia é, por definição, falsa. Ou farsa. Por aí.
As pessoas que se acham por cima da carne-seca correm o risco de ser confundidas com abóboras.
Nosso jornalismo? Piorou muito. Como quase tudo o mais. Até o xarope de groselha já não é o mesmo. Ergo: o jornalismo por aqui anda pior que xarope de groselha.
A cada quinze anos o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos quinze anos.
Nada do que é irrazoavelmente desumano nos é estranho. Pegamos intimidade com o inusitado.
Banana: fruta empregada para demonstrar às crianças do colégio primário como colocar no membro uma camisinha.
OU
Como tudo mais, o futuro é uma incógnita. E só ao demônio pertence.
FINALMENTE
Não há motivo para nos sentirmos à vontade no mundo. Os alienígenas somos nós.
Agora, eu vou levantar, vou sair por aquela porta e não vou olhar para trás.
Finis