Não sou economista. Minha formação é de antropólogo. Mas uma das coisa que se aprende é buscar o significado oculto do que dizem os entrevistados no trabalho de campo.
Vale para nossa sociedade. Em particular, para decifrar, por trás do linguajar pseudo técnico de alguns especialistas, o significado efetivo em português simples e corrente.
A leitura do noticiário publicado pelos jornalões é sempre um campo ótimo para se fazer esse exercício. Quando é a fala dos “espertos” em economia, então, é preciso um cuidado excepcional.
Segue o primeiro desses verbetes interpretados com simplicidade.
ESTADO MINIMO – é um dos pseudo conceitos preferidos do tucanato. Na sua versão oficial, se apresenta como um aparelho estatal dedicado exclusivamente a tarefas básicas, como proporcionar saúde, educação e segurança. O resto deve ser deixado nas mãos da iniciativa privada. Os mecanismos reguladores, deixados aos cuidados de agências independentes, que tão somente atentam para os aspectos regulatórios gerais dessa ação empresarial. O Banco Central, o guardião da moeda, deve também ser independente, recebendo mandatos fixos e total independência para cuidar de sua missão básica, que seria manter a inflação sob controle – o fluxo de moedas –, deixando, então que o crédito e os demais componentes de uma política econômica se auto-regulem por mecanismos de mercado.
Por trás disso se escondem algumas outras coisas. E é bom começar pelo final, a tal independência do Banco Central. Evidentemente o controle da moeda é fundamental. Inflação penaliza os pobres, os que não vivem de renda. Mas esse controle da moeda deve estar subordinado a outros fatores de política econômica, inclusive os mecanismos de crédito e os que permitem uma expansão dos programas sociais. A exclusividade do controle da inflação, sem levar em consideração as condições para expansão do emprego é a raiz do “estado mínimo”. Atarraxado em uma política monetária recessiva e simplesmente anti-inflacionária não sobra dinheiro para mais nada, nem para investimentos. O resultado já se viu.
Para fazer o arremesso de política social promovido pelo FHC (o pai de todos), foi preciso usar um trocado da privatização, até para justificar a venda desenfreada do patrimônio público. E a própria privatização vem justificada pela ineficiência das telefônicas estatais.
Ora, nem precisa ter memória. Basta dar uma googlada para ver que a ideia do “estado mínimo” já vinha de antes, e desde os militares, passando por Sarney, Collor e Itamar, os investimentos das estatais eram simplesmente bloqueados… em nome do famoso superavit. E quem não investe, não pode se atualizar. E abre o espaço para justificar a privatização, pois eram empresas “incompetentes”, e viva os espanhóis, italianos e mexicanos que avançaram na área. E a Vale e a CSN? Privatizadas com belo apoio do BNDES, com o uso dos chamados “créditos podres”… e aí ficam os pseudo investidores, que usaram recursos públicos – tal como o tal do Eike – para comprar o patrimônio público a preço de banana amassada na xêpa da feira…
Tudo em nome do controle da inflação. Que teve os belos resultados que conhecemos com Sarney e Collor, acentuando o que já vinha dos milicos.
FHC cortou o processo inflacionário, e de modo inteligente, sim. Mas completou o servicinho fechando a capacidade de investimento do estado e privatizando o que levou alguns anos para caracterizar como empresas ineficientes.
O que sobra agora para privatizar e não cortar os programas sociais – por algum tempo.
A Petrobras, é claro.
Mais verbetes em breve.